Há coisas do diabo...

Eh pah desculpem se isto não é tanto um disparate mas tenho que escrever e descrever esta situação que ocorreu hoje...

Há coisas do diabo...
Hoje, dia 8 de Abril de 2009 sento-me no autocarro e ao meu lado e uma criança com ar visivelmente desfavorecido senta-se ao meu lado. Noutros dois bancos senta-se a mãe e os três irmãos dele, duas meninas e outro rapazito.
Senti o garoto desclocado do resto da família porque quando entrei no autocarro todos tinham ido lá fora e ele ficou sentado no banco da viatura.
Mais deslocado e diferente o senti quando todos os irmãos eram loiros e bonitos ele tinha um aspecto vulgar e triste.

A certa altura pergunta-me qual o meu destino e de onde venho com uma inocencia de bradar aos céus...eu respondo-lhe e ele pergunta-me se eu vim visitar a família.
Eu digo que não, que o meu destino é a minha terra e que venho cá quando não tenho aulas.

Eu falo-lhe que ando na universidade, ele pergunta-me se tenho casa lá nesse sítio onde estudo, eu digo que sim e ele faz uma cara de espanto...percebi que aos olhos dele eu era a pessoa mais sortuda do mundo por poder ter duas casas, dois sítios onde viver...

Ele diz que vem visitar alguma família que não vê há muito...e que vai ver nesta Páscoa...
Pergunto-lhe se ele gosta de andar na escola e o que quer um dia ser...ele responde..."Quero ser ciclista, já sou lá em Lisboa mas quero ser melhor..."

Ele ingenuamente pergunta-me o que queria eu ser...Eu digo que um dia serei biólogo e ele faz uma cara de quem não faz ideia do que isso é, ao que tive que lhe explicar o mais sinteticamente possível que são aquelas pessoas que estudam as plantas,os animais e toda a Natureza.
Novamente ele fica maravilhado...e noto que me admira profundamente e que vai dizer aos irmãos que esteve a falar com uma pessoa que vai um dia ser cientista...

Quando acabo a conversa penso em tudo o que lhe disse, em tudo o que revelei a uma criança de 7 ou 8 anos que não conhecia de lado nenhum, mas que me tocou o coração pelos seus olhares e expressões de quem não tem ou não poderá ter as oportunidades que eu tive na vida...

Revelei-lhe de onde sou, de onde vinha, o que estudava, o que fazia...
Ela revelou-me muito mais que isso quase sem falar...
Não sei o seu nome, a sua idade ao certo...

Sei que vem de Lisboa e que quer ser ciclista um dia...
Sei que esta viagem de poucos quilómetros foi diferente de alguma outra que fiz até hoje...